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É SÉRIO ISSO?

          Certificado de Operação Estruturada (COE), o nome é pomposo, mas será que é bom para o seu patrimônio? Não sei por que, mas este nome me lembra um tal “departamento de operações estruturadas” de uma famosa empresa que fazia negócios com estatais brasileiras. No caso desta empresa, os negócios eram muito lucrativos para ela própria e para algumas pessoas dentro das estatais, porém muito ruim para o brasileiro em geral que pagava muito caro por obras superfaturadas. Faço desde já o disclaimer que não vejo nenhuma relação entre corrupção e COE. Apenas a analogia entre “estruturada” e o preço pago pelo comprador, caro!

          Faz-se necessário inicialmente explicar resumidamente o que é este produto. Basicamente é uma combinação de ativos que normalmente resulta em uma operação que mistura características da renda fixa e da renda variável, podendo limitar perdas e/ou ganhos. Um banco monta o produto, empacota e vende através de plataformas. Logo, começa que no COE tem risco de crédito do banco que emitiu o ativo.

          O crescimento do modelo de gestão de patrimônio independente e isento de conflitos de interesse foi muito potencializado com a crise do COVID-19. Estamos recebendo diariamente diversos pedidos de avaliação de carteiras que hoje se encontram em bancos e corretoras, pois muitos investidores perderam dinheiro e/ou a confiança nos seus relacionamentos. Depois de avaliar todas estas carteiras notamos um ponto em comum entre elas: a grande maioria possuía um ou mais COE’s em tamanhos bastante relevantes e com prazos de vencimento extensos. Mas será que este produto é tão bom assim?

          Como a grande maioria das respostas sensatas na vida é: depende! Neste caso, depende do grau de conhecimento do investidor sobre o mercado de capitais. Veja bem, sobre o mercado! Não estou dizendo que depende se o investidor entendeu ou não qual é a operação proposta: por exemplo se ele entendeu qual é o ativo, o que é o capital protegido ou o limite de perda ou ganho. Estou dizendo que depende se o investidor é um profissional do mercado ou se é alguém que tem outra atividade profissional e vez por outra é chamado, por exemplo, para decidir sobre o rumo do câmbio ou dos juros da Polônia com algum tipo de trava (sim, já vi isto também!). Portanto, na minha opinião este tipo de operação não faz sentido para o investidor pessoa física médio que não é um profissional do mercado de capitais.

          Além disso, tipicamente a venda do COE sempre vem acompanhada de termos como “capital protegido”, “perdas reduzidas”, “ganhos altos”, “sem risco de perda”. Tudo que uma pessoa gosta de ouvir é que um investimento financeiro pode ter bons ganhos, mas sem risco de perdas. E os COE’s atendem este desejo psicológico. Porém, o cliente não percebe que, faça chuva faça sol, a hora que compra um COE, só vê o dinheiro de volta quando o COE vence, 3, 4, 5, 6 anos depois… Ou seja, é mais ilíquido que comprar uma debênture de uma empresa meia bomba. Nos casos onde existe liquidez, não existe proteção, e a única contraparte que vai comprar o COE do investidor é aquele que vendeu para ele. Prato cheio para colocar um belo spread no preço, pois o cliente vira refém de quem vendeu. Nem transferir custódia é possível.

          A pergunta que fica é: mas então por que tantas carteiras estão cheias de COE`s por aí? Não sei, mas suspeito que haja um conflito de interesse forte entre o vendedor desta operação e o cliente, pois este é o produto mais rentável para o vendedor. Apenas comparativamente, quando um cliente compra um fundo multimercado, o vendedor recebe zero vírgula qualquer coisa porcento ao ano do valor investido pelo cliente como comissionamento pela venda. Já quando vende um COE o vendedor recebe na média 5% do valor investido pelo cliente como comissão. Dito isso, me parece claro que o vendedor é altamente estimulado a concentrar seu esforço de venda no COE. Concorda?

         Enfim, este é mais um caso do mercado financeiro que deixa claro a importância do alinhamento de interesses. Não há como não haver conflito se existe um balcão e de um lado está um vendedor de produtos financeiros e do outro apenas o investidor. 

         Existe um desequilíbrio de conhecimento enorme a favor do vendedor. Por isso, é muito importante que o investidor tenha alguém Ao Seu Lado para lhe ajudar a tomar estas decisões.