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TABELA PERIÓDICA SAMESIDE
CARTA DE 2020

O ano de 2020 foi totalmente atípico no mercado financeiro, mas terminou mais ou menos como encerrou: em ritmo de euforia.

No contexto de investimentos, dividimos o ano de 2020 em 4 Fases. E, nada melhor que resgatar o passado para entender os tempos e movimentos.

– Fase 1 –

Euforia: de 31/12/2019 a 19/02/2020

Caracterizada pela continuidade das boas notícias. O Covid-19 já era uma realidade, mas ainda não havia se espalhado pelo mundo, o que ocorreria alguns dias mais tarde, em pleno carnaval no Brasil. No dia 19/02/2020, o S&P 500 atinge a máxima histórica de 3.386 pontos no fechamento, com valorização de 4,8% em dólar desde o fim de 2019.

Neste período, discutíamos internamente o avanço das reformas estruturais. O Covid-19 havia influenciado preços mais no final de janeiro. Em fevereiro, à medida que se julgava que a China havia controlado o vírus, o tema perdeu relevância.

No Brasil, o último relatório Focus divulgado, em 17/02, projetava um 2020 com IPCA de 3,22%, SELIC de 4,25% ao final do ano (mesma taxa vigente desde a reunião do COPOM de 05/02/2020). Além disso, a expectativa de PIB para 2020 rodava ao redor de 2,3% e a projeção de dólar para final do ano estava em R$ 4,10.

No mercado financeiro brasileiro, os juros baixos, expectativas de reformas e os 4 anos desde 2016 com altas consecutivas na bolsa já influenciavam as pessoas físicas, que aumentavam o risco de suas aplicações comprando ações.

Abaixo, o desempenho das classes de ativos neste período:

Destaques:

  1. Desvalorização de 8,5% do Real frente ao Dólar, fechando já a R$ 4,37 no fim do período.
  2. Queda de 5,8% dos fundos imobiliários, ocasionada especialmente pela alta exagerada do último trimestre de 2019.
  3. Alta de 13,7% das ações americanas, refletindo a alta de 4,8% do S&P 500, além da desvalorização do Real.

– Fase  2 –

Pânico, de 19/02/2020 a 23/03/2020

Caracterizada pela fase mais aguda dos efeitos da pandemia no mercado financeiro. O mundo começou a digerir uma nova realidade: a doença virou pandemia mundial. As notícias vindas da Europa, especialmente Itália, provocaram pânico geral nos mercados até 23/03/2020, que foi o fundo do poço. Após circuit breaks sucessivos, fuga em massa de investidores estrangeiros, sucessivos anúncios de lockdowns mundo afora impactando as projeções de PIB, o saldo foi uma trilha de sangue no mercado financeiro global. Lembrando, no dia 23 de março, o mundo registrava apenas 472 mil casos e 17 mil mortes por Covid-19. Mais uma vez, o mercado financeiro antecipou – drasticamente diga-se de passagem – a realidade econômica, financeira e de saúde pública que ocorreria a partir do final de fevereiro.

Neste período, todos os Governos mundo afora iniciaram planos de contenção dos impactos da pandemia e das ações tomadas visando reduzir a propagação da Covid-19, que impactaram fortemente as economias.

Entre outras medidas, os Governos literalmente começaram a mandar dinheiro para as pessoas e iniciaram processos de compras de ativos financeiros. A partir dos anúncios dos programas o desempenho dos mercados reverteu, em 23/03/2020.

No Brasil, a agenda de reformas estruturais foi dizimada. E, para reduzir impactos da pandemia, o Governo começou a despejar dinheiro de transatlântico na economia.

Em 18/03, o Banco Central do Brasil voltou a reduzir a SELIC, já anunciando novos cortes futuros. Ao final desta fase, a SELIC já se encontrava em 3,75% ao ano.

No paralelo, os economistas “revisaram” suas projeções. Mas, ao final desta fase ainda poucas mudanças haviam sido feitas nas projeções. Estimativas do Relatório Focus de 20/03/2020:

IPCA 2020 3,04%
PIB 2020 1,48%
Preço do Dólar em dezembro de 2020 R$ 4,50
Meta da Selic para dezembro de 2020 3,75%

Abaixo, o desempenho das classes de ativos neste período:

Destaques:

  1. Nova desvalorização de 16,2% do Real frente ao Dólar, fechando já a R$ 5,08 no fim do período.
  2. Queda de 28% dos fundos imobiliários, impactados pela perspectiva de fechamento dos shoppings e aumento de vacância dos imóveis comerciais.
  3. Queda de 45% das ações brasileiras. O Ibovespa chegou a 63,5 mil pontos no pior dia. Obs.: as pessoas físicas brasileiras foram os grandes compradores no meio da crise!
  4. Queda de 23% das ações americanas, resultado da queda de 34% do S&P 500 e desvalorização de 16% do real.
  5. Queda de todos os investimentos de renda fixa, seja risco Governo ou risco privado, seja prefixado ou indexado à inflação.

Em resumo, o pânico financeiro se instaurou em todas as classes de ativos mais utilizadas pelos brasileiros. A exceção foi o Dólar, que se manteve como porto seguro.

– Fase 3 –

Recuperação, de 23/03/2020 a 06/11/2020

Caracterizada pela forte recuperação dos mercados (enquanto as economias eram destruídas pelo aumento da Covid-19 e medidas de contenção eram tomadas). O que explica isto?

  • Em primeiro lugar, a exorbitância de dinheiro injetada pelos Governos diretamente nas Economias. Estima-se que países como Japão, Canadá, EUA e Brasil, por exemplo, GASTARAM ADICIONALMENTE mais de 15% do PIB para reduzir os impactos econômicos. No Brasil, o Governo se viu obrigado a gastar, em um ano, praticamente toda economia projetada com a Reforma Previdenciária ao longo de 10 anos.
  • Em segundo lugar, as compras de ativos pelos Bancos Centrais do mundo. Só para dar uma dimensão, ao final de 2019, os 4 maiores bancos centrais do mundo (Estados Unidos, Europa, China e Japão) tinham, em conjunto, cerca de USD 19 trilhões em ativos. Ao final de 2020 estavam chegando a USD 29 trilhões. Para entender a dimensão do tamanho das compras: TODAS AS EMPRESAS LISTADAS EM BOLSA NO BRASIL VALIAM 988 BILHOES DE DÓLARES NO FINAL DE 2020. OU SEJA, SERIA COMO SE OS BANCOS CENTRAIS TIVESSEM COMPRADO TODAS AS EMPRESAS DO BRASIL NEGOCIADAS EM BOLSA, 10 VEZES. Abaixo o gráfico mostra a evolução do S&P 500 e dos balanços dos 4 principais bancos centrais do mundo. Fica evidente que, desde 2008, o desempenho dos mercados tem alta correlação com as compras de ativos pelo Bancos Centrais. Por um breve período, entre 2018 e 2019, os mercados evoluíram sem compras massivas. Mas, em 2020, a correlação voltou a ditar o desempenho. Créditos do gráfico: https://www.yardeni.com/pub/peacockfedecbassets.pdf.
  • Em terceiro lugar, o aumento da poupança privada. A renda das pessoas caiu, e parte foi complementada por dinheiro do Governo. Além disso, as despesas despencaram, devido ao isolamento. Assim, sobrou dinheiro. Com juros negativos em quase todos os países do mundo, tempo ocioso, e dinheiro, as pessoas foram às compras de ações, entre outros. Só aqui no Brasil, as pessoas físicas injetaram diretamente R$ 61 bilhões na bolsa em 2020. Foram os grandes compradores do ano!

Este período foi de bastante instabilidade. Enquanto a doença regredia na Europa, evoluía na América. Muitas dúvidas sobre quando voltaríamos ao “normal”, se voltaríamos, quando ia terminar a pandemia, quando íamos ter vacina. Assim, por óbvio, a alta dos mercados foi acompanhada de alguma volatilidade, refletindo o vai e vem das notícias.

Com locomoção limitada, as pessoas passaram a adotar em massa ferramentas tecnológicas para trabalhar, comprar, se divertir. Não à toa, as ações de empresas de tecnologia dominaram este período, com valorizações de mais de 100%. Em alguns casos mais de 500%. Boa parte do comércio tradicional foi deslocada para o comércio on-line. Amazon, Facebook, Google, Netflix, Zoom, apenas com exemplo, nunca cresceram tanto quanto neste período.

No campo político, foi uma pandemia à parte. Governantes postos em cheque. Brigas internas entre governantes federais, estaduais e municipais. E uma eleição americana no meio, disputada e agressiva, repleta de acusações de fraudes.

No Brasil, o Banco Central derrubou a SELIC até 2% ao ano em agosto, mantendo-a até hoje neste patamar.

Em nossa visão, este período se encerra dia 06/11/2020. No dia 09 a Pfizer anuncia a eficácia de sua vacina. Nesta mesma semana, já estava claro ao mercado que Joe Biden havia vencido a eleição americana. E, na esteira da Pfizer, outros laboratórios começaram a divulgar os resultados de suas vacinas.

No paralelo, uma pandemia à parte entre os Economistas “revisando” mais algumas vezes as projeções. Estimativas do Relatório Focus de 05/11/2020:

IPCA 2020 3,20% (esta projeção já chegou a estar em 1,6% no meio do ano)
PIB 2020 -4,80% (já chegou a estar em -7% no meio do ano)
Preço do Dólar em dezembro de 2020 R$ 5,45
Meta da Selic para dezembro de 2020 2,00%

Abaixo, o desempenho das classes de ativos neste período:

Destaques:

  1. A única classe que se manteve com a mesma direção em todos os períodos até aqui: nova desvalorização do Real frente ao Dólar, desta vez de 8,9%.
  2. Valorização de 70,8% das ações americanas.
  3. Valorização de 58,8% das ações brasileiras.
  4. Recuperação dos fundos imobiliários, subindo 28,9% no período.
  5. Recuperação dos demais ativos de renda fixa.

– Fase 4 –

EUFORIA?, de 06/11/2020 a 31/12/2020

Após 3 meses de dúvidas (agosto, setembro e outubro), a temporada de boas notícias com os anúncios das vacinas, iniciada pela Pfizer, bem como o desfecho da eleição americana, iniciou a fase que classificamos como início de uma nova euforia (não esqueça que a ajuda dos Governos e as compras de ativos pelos Bancos Centrais seguem ocorrendo nesta fase).

Agora, a corrida passou a ser pelo início da vacinação. E nem mesmo a tal segunda onda da Covid, que chegou com força na Europa, reduziu o ânimo dos mercados. No Brasil, os investidores pessoas físicas seguiram comprando bolsa. E agora os estrangeiros estavam de volta, comprando junto.

Nos Estados Unidos, a euforia aconteceu com a rotação de setores. Investidores reduziram posições nas empresas tech e voltaram a comprar empresas “normais”, apostando na reabertura das economias. Assim, no agregado, a bolsa lá fora não subiu neste período.

No Brasil, a bolsa subia em linha reta. Praticamente uma renda fixa valorizando todos os dias. E a entrada de dinheiro estrangeiro fez o Real se valorizar.

As expectativas dos economistas, agora faltando somente dois meses para o final do ano, foram se ajustando.  Com o aumento da inflação no Brasil, aumentaram as vozes defendendo a normalização da taxa Selic.

Abaixo, o desempenho das classes de ativos neste período:

Destaques:

  1. O Real valorizou 6% no período, fechando o ano em R$ 5,20.
  2. Bolsa brasileira, composta especialmente por setores tradicionais, sobe 18% em 2 meses.
  3. Forte alta da renda fixa indexada à inflação, de 5,48%.
  4. Desempenho de 3,7% dos fundos multimercado.

– Aditivo –

Como os Governos financiaram O auxílio às economias?

Este tópico merece um capítulo à parte. Naturalmente, nenhum Governo estava preparado para agir na pandemia. Por preparado, leia-se: com dinheiro sobrando para distribuir.

Então, como fizeram para arranjar este dinheiro?

Vamos analisar os dois países abaixo:

  1. Estados Unidos

Em 2019, os Estados Unidos tinham dívidas de USD 23,2 trilhões e outros USD 3,9 trilhões em papel moeda emitido. Total de USD 27,2 trilhões de dólares de “passivos”. Lembre-se: quando um país não consegue mais captar dívida, só resta imprimir moeda para financiar os gastos públicos, o que gera conseqüências perversas, como hiperinflação. Logo, devemos incluir o papel moeda emitido como uma das fontes de recursos dos Governos.

À medida que a crise avançava e o Governo executava medidas anti-cíclicas, foi se endividando cada vez mais e emitindo mais papel moeda em conjunto, em volumes inéditos. Ao final do ano, o Governo norte-americano devia aos investidores USD 7,1 trilhões de dólares a mais que no início do ano, um crescimento de incríveis 26% em 12 meses. Para dar uma ordem de grandeza: só o que os Estados Unidos captaram em 1 ano é 7x a gigantesca dívida do Brasil.

  • Brasil
Gráfico, Gráfico de barras

Descrição gerada automaticamente

Em 2019, o Brasil tinha dívidas de BRL 4,25 trilhões e outros BRL 280 bilhões em papel moeda emitido. Total de BRL 4,53 trilhões de “passivos”.

À medida que a crise avançava e o Governo executava medidas anti-cíclicas, nos endividamos cada vez mais e emitimos mais papel moeda, em volumes inéditos. Ao final do ano, o Governo brasileiro devia aos investidores BRL 850 bilhões a mais que no início do ano, um crescimento de 19% em 12 meses.

Enfim, o custo da ajuda de Governo foi o crescimento das dívidas públicas em níveis altíssimos!

– Principais pontos para 2021 –

Ao longo de anos, já aprendemos que ficar projetando desempenho futuro dos ativos financeiros não adianta muito. Vira e mexe chega um temporal e acaba com toda projeção. Assim, ao invés de apostar, o investidor pessoa física deve se preocupar em fazer uma boa distribuição de investimentos entre classes de ativos, podendo sim ter apostas pontuais. Deixem as grandes apostas para os bons fundos multimercado! Têm um veículo bom para fazer isto, tem equipe competente e focada e são super bem pagos para fazer isto! E se acertarem, as recompensas são ainda maiores.

Dito isto, entendemos que existem algumas linhas mestre que devemos seguir para as principais classes de ativos em 2021, tais como:

  1. Alta da SELIC: acreditamos no início da normalização da Política Monetária brasileira, uma das mais expansionistas do mundo em 2020. Nem a Suíça trabalhou com juros reais negativos no patamar que o Brasil trabalhou. O juro nominal foi para 2% (patamar de primeiro mundo) mas a inflação IPCA segue rondando os 3,5% / 4% (nosso velho e conhecido padrão). E acreditamos que esta normalização deva iniciar logo, ainda no início do segundo trimestre, ou talvez no fim do primeiro trimestre, sob risco de os investidores entenderem estarmos novamente com uma condução de Política Monetária padrão Dilma 2013-2015. O resultado daquela política: IPCA de quase 11% em 2015 (logo ali, 5 anos atrás).
  2. Com a normalização da SELIC, acreditamos em alívio no preço do Real vs outras moedas, especialmente Dólar. Hoje, para um estrangeiro botar dinheiro em renda fixa no Brasil, por exemplo, não vale a pena. Dado o risco do país, tem pouco prêmio a renda fixa. Assim, ele fica fora. Com a normalização da Taxa SELIC, este fator deve aliviar a pressão no câmbio. Talvez, até valorizar o Real. Dito isso, entendemos que Dólar não é um bom momento para especular. No entanto, quem não tem investimentos no exterior, diversificando ativos e fronteira, deve imediatamente pensar nisto, independente de preço de dólar.
  3. Com a normalização da SELIC, os investimentos em crédito privado indexados ao CDI devem sair do ostracismo. Atualmente, todos agentes procuram crédito privado em IPCA, está na moda. Logo, está sem prêmio de risco substancial. Ao contrário, os investimentos atrelados ao CDI seguem com prêmio atrativo.
  4. Eventuais soluços na inflação (uma inflação um pouco mais alta, mesmo que temporária) devem trazer perdas em investimentos prefixados. Assim, preferimos manter esta classe em níveis reduzidos em nossas carteiras.
  5. Bolsa Brasil: depois da euforia, vem a bolha? Não sabemos, mas ainda entendemos que valha a pena possuir bolsa em níveis neutros ao perfil de risco de cada família. O momento é positivo. Empresas se recuperando, novidades aparecendo, bancos centrais comprando ativos de risco, pessoas físicas comprando. Mas, se a euforia continuar forte, pode virar bolha, e aí sim hora de reduzir forte a bolsa. Toda bolha termina da mesma maneira: estoura, independente do motivo que a fez estourar (um aumento dos juros, uma crise do subprime, etc).
  6. Bolsa Estados Unidos: idem bolsa brasil, porém com mais resiliência, mais diversificação de setores, mais pujança e menos volatilidade.

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