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Alocação de Recursos em Dólar no Exterior: Passado e Futuro!

Por Marcos Fritzen e Carlos Eduardo Schuch*,
em 14/10/2019

Quando o preço do dólar passa de R$ 4,00, é comum as pessoas acharem que está caro. Ficar chateado porque não “dolarizou” parte do dinheiro quando em agosto de 2008 estava a R$ 1,57, logo antes da crise financeira. Ou quem sabe ter comprado em março de 2012, quando a cotação estava a R$ 1,77.

Desde que a moeda local passou a flutuar frente ao Dólar depois de 1999, o Real teve 4 momentos de desvalorização acentuada: a primeira em 2002 (véspera da primeira eleição do Lula); depois em 2008 (crise financeira nos Estados Unidos), uma outra desvalorização em 2015 (impeachment Dilma) e a mais recente em 2018 (incerteza eleitoral do 2018). De resto, foram grandes ciclos de valorização do Real, com pequenas variações.

Atualmente o Dólar ronda as máximas históricas de R$ 4,20, mas em 2002 a moeda também chegou próxima a este patamar. Será que agora está bom para comprar? Ou é momento de venda?

Sob uma perspectiva histórica, analisando somente o preço, argumentamos aqui que o dólar está barato. O Dólar a 3,95 cotado em 2002 é bem diferente do Dólar atual de R$ 4,20. Por quê?

A explicação é muito simples: quem decidiu naquela época trocar os investimentos locais de Real + CDI por investimentos de Dólar + FED Funds (taxa similar ao CDI nos Estados Unidos), para ter valido a pena financeiramente esta troca, o Dólar teria que estar R$ 22,00 hoje. Neste período, do ponto de vista de resultado financeiro, compensou ter assumido o risco de permanecer com o dinheiro em Reais, aplicando em CDI. O resultado foi 5x maior. Isto porque a taxa de juros no Brasil foi muito maior que a taxa de juros básica em Dólar, e a desvalorização do Real foi pouca.

O Gráfico abaixo mostra o preço do Dólar nominal (linha azul) e o preço que o Dólar deveria estar hoje comparando “Dólar + FED Funds” e “Real + CDI” (área marrom). A área verde evidencia os períodos em que ter investido em Dólar foi melhor do que ter investido em Real. Como pode-se perceber, esta área verde só é visível a partir de 2010. Em resumo, quem optou por migrar pro dólar em qualquer período entre maio de 2010 e janeiro de 2015 e, depois, entre junho de 2016 até hoje, obteve melhor retorno em Dólar do que em Real. Qualquer período antes disso, foi significativamente melhor estar aplicado em Real do que em Dólar.

grafico 1

Fonte: FED Saint Louis; Quantum Axis. Elaboração: SameSide

Em uma segunda análise, também simples à luz das análises econômicas, vale a pena olhar os gastos de brasileiros no exterior e dos estrangeiros no Brasil. Entram aí gastos com viagens, seja turismo ou negócios. Veja o gráfico abaixo.

Fonte: Séries Temporais do Banco Central do Brasil. Elaboraçao: SameSide

As barras de cor marrom mostram os gastos dos brasileiros no exterior a cada 12 meses. De 1995 até 1999, quando havia paridade Real/Dólar, os brasileiros gastavam em média 5 bilhões de dólares em viagem. Vários são saudosistas dessa época!

Quando houve a flexibilização do câmbio e o Real desvalorizou, entre 1999 e 2002, os gastos caíram pela metade, chegando a pouco mais de 2 bilhões de dólares por ano. Passaram-se os anos, o Real valorizou e no ápice em 2014, os brasileiros gastavam em torno de 25 bilhões de dólares por ano no exterior. Com a nova desvalorização a partir de 2015, houve impacto nos gastos, que caíram. No entanto, hoje ainda se situam na faixa de 17,5 bilhões de dólares por ano. Menos que no pico, mas ainda 7x maior do que em 2002. Um sinal que o Dólar está bem mais desvalorizado do que estava lá em 2002, já que mesmo em R$ 4,00/USD, os gastos com viagens seguem altos. Sobre os gastos dos estrangeiros aqui, nem vale comentar. São pequenos e estáveis: pouco mais de 5 bilhões de dólares por ano.

Analisando somente pela questão do preço, este estudo sugere que vale a pena aumentar (ou iniciar) uma alocação patrimonial em dólares. Em nossa visão, isto é sempre relevante, em maior ou menor grau. Além da proteção patrimonial off-shore, um dado é especialmente interessante: todo o mercado de investimentos financeiros do Brasil (renda fixa + ações) representa pouco mais de 1% do mercado de investimentos global. Adicionalmente, enquanto antigamente se investia em CDI a 15% no Brasil vs 4% em Dólar (spread de 11%), hoje se investe a 5% no Brasil vs. 1,5% em Dólar (3,5% de spread). Não está mais tão vantajoso o risco de ficar alocado em renda fixa em Reais…

Por outro lado, o Banco Central Brasileiro possui um canhão de Dólares para vender se quiser manter o Real sob controle. São mais de 386 bilhões de dólares em reservas internacionais. Considerando que o déficit em transações correntes é em torno de 38 bilhões de dólares por ano, o Banco Central, só com as reservas, levaria 10 anos para zerar tudo se cobrisse este déficit. Cabe salientar que pelo menos no que tange às relações internacionais com os Estados Unidos, em um item somos bastante relevantes: hoje, o Brasil é o 4º maior credor do Governo dos Estados Unidos, uma vez que 311 bilhões de dólares das reservas internacionais estão investidas em títulos do tesouro americano.

Se o Real vai valorizar ou desvalorizar frente ao Dólar no futuro, não sabemos a resposta e tampouco acreditamos que alguém saiba. Mas entendemos que a diversificação internacional faz sentido e deve ser planejada e executada pelas famílias como forma de proteção, reserva em moeda forte, acesso a outros tipos de investimento e diversificação do patrimônio.

Independente do preço do Dólar, para saber quanto enviar e qual instrumento utilizar, fale com seu Consultor Financeiro ou Gestor de Patrimônio. Somente um profissional isento de conflitos poderá te ajudar a decidir e ficar ao seu lado para operacionalizar a melhor estratégia para você.

Quer saber mais? Entre em contato conosco!

www.sameside.com.br

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