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Renda Fixa em Baixa: Qual Caminho Seguir?


Por Guilherme Ruviaro Fração*,
em 18/05/2020

No início de fevereiro deste ano publicamos um texto intitulado “Selic a 4,25%: eutanásia do rentista segue firme e forte”. Naquele momento o Banco Central avisou em seu comunicado que era hora de interromper o ciclo de queda da taxa básica de juros. Entretanto, hoje, a meta para a taxa Selic está em 3% ao ano. O que mudou de lá para cá? Será que este novo patamar de juros é sustentável no longo prazo? Quais os impactos nos meus investimentos?

A tarefa do COPOM (Comitê de Política Monetária) de estabelecer a meta para a taxa Selic não é nada fácil, pois envolve um número de variáveis enorme e está sempre sujeita à novos acontecimentos entre as datas de suas reuniões. Esta foi a vez de um vírus vindo da China mudar completamente o plano do comitê. A forma que os governos optaram para combater a doença foi, resumidamente, #fiqueemcasa. A maior parte dos segmentos da economia foi paralisada e com isso alteraram muitas das variáveis que embasaram a decisão de fevereiro do comitê quando informou o final do ciclo de ajustes. Entre estas variáveis, o consumo caiu drasticamente e a projeção de inflação para os próximos meses despencou. Atualmente, de acordo com o último relatório Focus, a projeção média do mercado para o final de 2020 do IPCA é de 1,76% ao ano, ou seja, muito abaixo da meta de inflação de 4% que havia sido estabelecida para o ano corrente. Neste momento de atividade econômica combalida, um dos estímulos adotados pelo governo foi a redução da taxa de juros para o menor nível de nossa história.

Entretanto, diante desta nova realidade é necessário que pensemos sobre a sustentabilidade de longo prazo deste nível de taxa de juros. É fato que estamos atravessando um cenário inédito no Brasil, mas principalmente no mundo todo. Anos atrás a possibilidade de juros soberanos transitarem no território negativo era tido como impensável no mercado, porém hoje é uma realidade em diversos países. A Berkshire Hathaway (empresa do famoso Warren Buffet) emitiu um título de 500 milhões de dólares com vencimento em 10 anos, pagando apenas 0,9% acima dos rendimentos do Tesouro dos EUA. Nas últimas semanas, houve um vencimento de petróleo futuro que também estreou valores negativos, o mercado estava pagando para alguém retirar o petróleo das suas estruturas de armazenagem. Sendo assim, é natural a conclusão: são novos tempos! Sim, concordo com essa exclamação, porém não acredito que de forma geral as leis econômicas tenham se alterado. Portanto, acredito que para que a taxa de juros atual seja estrutural, diversas variáveis também precisam se adequar a este novo tempo. Por exemplo, as taxas de juros pré-fixadas de longo prazo deveriam convergir para valores bem menores, a dívida pública deveria ser em sua maior parte pré-fixada e a nossa moeda deveria ser mais forte. Claramente estes não são os únicos fatores, temos um caminho de reformas importante a cumprir (que por sinal foi adiado), precisamos melhorar a credibilidade de nossas instituições, ter maior segurança jurídica, um sistema político muito menos centralizado, um estado substancialmente menor, entre outras questões importantes. Quando vencermos esta agenda, aí sim estaremos prontos para juros baixos de forma estrutural.

Neste contexto, quais os impactos nos meus investimentos? Do ponto de vista macro, o investidor necessariamente precisará rever o nível de risco da sua carteira e/ou, dependendo do tamanho do patrimônio, precisará conter despesas. O conceito “padrão” de uma carteira conservadora, pelo menos momentaneamente, não proporcionará juro real. Neste momento o investidor precisará tratar a sua carteira de forma mais ativa, portanto o nível de dificuldade deste jogo aumentou significativamente.

O mercado financeiro nunca foi para amadores, mas especialmente agora é muito importante tratar o assunto investimentos de forma profissional. Caso você não seja um profissional do mercado financeiro, procure alguém capacitado, independente e isento de conflitos de interesse para que esta pessoa esteja ao seu lado lhe ajudando na hora de tomar as melhores decisões sobre o seu patrimônio.

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