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Selic a 4,25%: eutanásia do rentista segue firme e forte


Por Rodrigo Constantino*,
em 07/02/2020

O Banco Central reduziu mais uma vez os juros, agora para 4,25% ao ano, apesar do pouco ou nenhum espaço de redução, mas avisou que é hora de interromper o ciclo de queda. A queda era esperada por muitos, apesar de um receio legítimo com os efeitos disso na inflação.

Em seu comunicado, o Banco Central diz que as expectativas de inflação estão baixas até 2022, o que é verdade, mas ao mesmo tempo avisa que há riscos de que o atual nível de juros possa “elevar a trajetória da inflação acima do esperado”.

Logo na abertura do comunicado diz que os dados recentes mostram “a continuidade do processo de recuperação da economia”. Mais adiante, contudo, aponta como o primeiro risco “o nível de ociosidade elevado” que pode levar a um crescimento abaixo do esperado.

Em suma, o BC avisa que o país está se recuperando, mas a retomada pode ser menor do que o esperado, e diz que a taxa de inflação está controlada até o fim do atual mandato, mas que pode subir pelo estímulo dos juros baixos. O corte foi, enfim, o último desse ciclo, e agora é aguardar para ver os próximos passos. A agenda de reformas precisa continuar, como alerta o próprio comunicado.

E qual o efeito disso para os investimentos? A redução dos juros vai dificultar ainda mais a vida de quem tem na renda fixa o único destino para seus investimentos. Aqueles com perfil mais conservador terão de correr mais riscos se desejarem retornos melhores.

Diante deste cenário de piso histórico dos juros, caderneta de poupança, Tesouro Selic e fundos DI com taxa de administração acima de 1% terão o ganho real negativo, ou seja, o rendimento não conseguirá superar nem a inflação, que deve ficar pouco acima de 3% este ano, segundo estimativas do Focus.

É a eutanásia do rentista, uma das metas do ministro Paulo Guedes. No Brasil, por conta da hipertrofia estatal, sempre tivemos altas taxas de juros reais, o que criou uma casta de rentistas, acostumados a emprestar para o governo (comprar títulos públicos de renda fixa) e ir para a praia, colhendo elevados retornos.

Não mais. Como essa queda dos juros não é artificial, ou seja, não é voluntarismo político e marretada sem fundamento, como fez Dilma, a postura dos investidores terá de mudar. O capital terá de migrar para investimentos reais, produtivos, ou seja, para a bolsa, para financiar projetos de empresas. Aqueles que possuem poupança terão de se tornar sócios do capitalismo, não mais do estado perdulário.

É uma mudança profunda e estrutural, que afetará a mentalidade. Em boa parte já vem acontecendo, e explica o sucesso da XP, por exemplo. Mas podemos estar apenas no começo do processo, especialmente se as demais reformas realmente forem aprovadas, como a administrativa e a tributária.

Apostar nessa “revolução capitalista” no Brasil é sempre algo arriscado, pois os “monstros do pântano” costumam reagir às forças de mudança. Mas há indícios de que se trata de uma mudança de paradigma mesmo. Dependerá, claro, da aprovação das reformas e de certa estabilidade política. É aí que mora o perigo…

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*Artigo original publicado, na Gazeta do Povo em 06/02/2020, por Rodrigo Constantino, sócio da SameSide – responsável pela área de Consultoria Econômica.

*Rodrigo Constantino
https://www.linkedin.com/in/rodrigo-constantino-71122829/

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